O futebol carioca está vivendo uma crise. Flamengo e Vasco são aliados no retorno do Campeonato Estadual, contando com o apoio da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) e dos clubes de menor investimento. Botafogo e Fluminense são contra. Já na negociação de cotas de televisão com a Rede Globo, os flamenguistas estão isolados. Ameaças de WO, jogos cancelados, duelos remarcados e dirigentes dando um show de trapalhadas sob a gestão de Rubens Lopes, presidente da Ferj. Toda essa polêmica no Carioca faz o futebol relembrar Eduardo Viana, o Caixa D´água.
Para muitos Eduardo Viana foi o responsável pelo declínio do futebol carioca. Outros o apontam como alguém que deu força aos clubes do interior. Afinal de contas, era torcedor ilustre do Americano de Campos.
– Nunca ajudei ou mandei um árbitro ajudar o Americano como dizem. Tanto que nenhum grande clube, por exemplo, pode citar um jogo que tenha sido prejudicado no Estádio Godofredo Cruz em Campos. O Americana montou bons times – dizia Eduardo Viana toda vez que era acusado.
Mas foi justamente em uma polêmica envolvendo o Americano que fez Eduardo Viana, que assumiou a presiência da Ferj em 1984, ganhar fama. Em 1986 o Fluminense lutava pelo tetracampeonato carioca. Uma epidemia de dengue deixou metade do elenco tricolor de cama e o clube alegou que não poderia duelar com o time campista no Godofredo Cruz. O Caixa D´água não quis conversa e aplicou o WO no Tricolor, que perdeu a chance do tetra, abrindo o caminho para o título do Flamengo.
Polêmicas marcaram a gestão do Caixa D´água
Se na década de 80 Eduardo Viana teve apenas esta polêmica de Campos, a partir dos anos 90 suas gestões passaram a ser conturbadas. Era acusado de favorecer Eurico Miranda, então líder do Vasco, e também os times de menor investimento. Mas negava. Revoltados, em 1997 Botafogo, Flamengo, Fluminense e America formaram uma liga e ameaçaram não disputar o Campeonato Carioca. O episódio fez o Caixa D´água ganhar inimigos como Kléber Leite, então presidente do Flamengo, e Alvaro Barcellos, que presidia o Fluminense. O torneio naquele ano só aconteceu porque Rubens Lopes, a época presidente do Bangu, intermediou o acordo. Assim Rubinho começou a ganhar força na Ferj.
Após o período, Viana chegou a passar mal e ser internado. Ao voltar para a sede da Ferj brincou com os jornalistas.
– Estou bem. O Kléber Leite e o Barcellos terão que me aguentar por muito tempo. Mas não vão ficar felizes – disse Viana.
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Em 1998 os quatro clubes revoltados voltaram a demonstrar sua insatisfação. Deixaram de ir a campo em vários confrontos e o WO foi aplicado. O Vasco acabou campeão em um torneio de poucos clássicos.
Quatro anos depois, em 2002, surpreendeu ao marcar a disputa de um esvaziado Campeonato Carioca no meio da Copa do Mundo de 2002. O torneio, vencido pelo Fluminense, ganhou o apelido de Caixão-2002 em “homenagem” ao Caixa D´água.
Por sinal, o apelido que Eduardo Viana tinha e que era usado de maneira pejorativa pelos outros, era carinho. Isso porque o ganhou ao paquerar meninas atrás de uma caixa d´água do colégio em que estudava. Assim o tinha com orgulho.
Escândalos nos anos 2000: gestão Caixa D´água perto do fim
Os anos 2000 foram os mais cruéis para Eduardo Viana à frente da Ferj. Enfrentou uma série de acusações. Foi acusado dos crimes de formação de quadrilha, estelionato, fraude processual, falsidade ideológica e desvio de R$ 866 mil da receita da venda de ingressos no Maracanã em 2003, com a emissão de recibos e notas fiscais fraudulentas.
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Em 2004 foi afastado do cargo por suspeita de evasão de renda no Estádio do Maracanã, conseguindo voltar ao poder em agosto de 2005. Em 2006, por violação do Estatuto do Torcedor, voltou a ser afastado, mas conseguiu voltar ao posto. Chegou a tropeçar e cair diante das câmeras ao tentar fugir da imprensa na sede da Ferj.
Eduardo Viana era reconhecido pela sua cultura
Apesar de ter atritos locais com os clubes cariocas, na esfera nacional brigava pelos filiados. Em 1995 esteve nop Pacaembu acompanhando a final do Brasileiro entre Botafogo e Santos. Quando perguntado o que fazia perto do gramado abriu o verbo:
– Vim evitar que o Botafogo seja roubado como foi em 1981 na semifinal contra o São Paulo – disse Viana.
Tratava com bom humor as críticas dos dirigentes.
– Presidente de Federação serve para os clubes colocarem a culpa nele pelas suas próprias incapacidades – disse Viana.
Eduardo Viana era reconhecido como um dos homems mais cultos do estado em sua época. Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da Fundação Getúlio Vargas, ele era formado em Antropologia, Direito e Sociologia. Estudou na Vanderbilt University, nos Estados Unidos.
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Sem terem provado nada contra ele, Eduardo Viana acabou morrendo do jeito que sonhou: liderando a Ferj. Em 21 de agosto de 2006 sofreu ataques cardíacos enquanto presidia um arbitral na entidade. Foi levado com vida para o hospital, mas não resistiu. Entretanto, ficará sempre sendo lembrando quando o assunto for as polêmicas do futebol carioca.
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