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MQJ Memória: 30 anos sem João Saldanha, o João sem medo

Uma das figuras mais polêmicas da história do futebol brasileiro faz aniversário de morte neste domingo. João Saldanha, que morreu em 12 de julho de 1990, protagonizou alguns episódios marcantes ao longo de sua vida. A figura do treinador se misturava com a do jornalista. O MQJ Memória de hoje relembra um pouco a trajetória do treinador que conduziu o Brasil até a Copa do Mundo de 1970, mas acabou demitido semanas antes do Mundial por conta de seu posicionamento político.

João Saldanha marcou o futebol brasileiro (Foto: Arquivo CBF)

João Saldanha, que nasceu na cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul, jogou poucos anos no Botafogo. Logo percebeu que não tinha tanto talento em campo. Assim largou o futebol para estudar Direito. Mas mantinha contato com o esporte e seu clube de coração. Tanto que entre 1939 e 1940 foi intérprete do técnico húngaro Dori Kürschner no Botafogo. Com ele, começou a aprender táticas de futebol. A sua teoria era de que o talento resolvia e era um crítico da preparação física.

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Botafogo abriu as portas para o treinador

Em 1957, João Saldanha recebeu um convite que mudaria a sua vida. O Botafogo decidiu convidá-lo para o cargo de treinador. O time não vinha bem e mesmo assim Saldanha o colocou na final do Campeonato Carioca contra o favorito Fluminense. Mas o que se viu em campo foi um massacre do Glorioso. O Botafogo goleou por 6 a 2, com um show de Paulo Valentim, que fez cinco gols, sendo um deles de bicileta. Garrincha completou o marcador.

– O Botafogo era o azarão, o Fluminense era o timaço. Mas eu tinha Garrincha, Valentim, eu tinha talento. A história vocês já sabem – ironizou o treinador após o confronto.

Apesar do sucesso no Botafogo, abandonou a carreira alguns anos depois por ter sido convidado para atuar como jornalista. Integrou grandes equipes a começar pela Rádio Guanabara, atual Bandeirantes. Trabalhou nas rádios Nacional, Globo, Tupi e Jornal do Brasil, nas TVs Manchete e Globo e nos jornais Última Hora, O Globo e Jornal do Brasil, além da revista Placar.

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João Havelange levou João Saldanha para a Seleção Brasileira

Em 1969 o então presidente da CBD, atual CBF, João Havelange, decidiu tirar Saldanha das redações e o convidou para a Seleção Brasileira. Ele aceitou de pronto dizendo que ia enfim colocar em prática o que o futebol brasileiro precisava.

– Queria um treinador que não fosse tão criticado pela imprensa. Assim escolhi um jornalista – lembrou Havelange.

João Saldanha montou a base do time com jogadores dos três principais times do país na época: Botafogo, Cruzeiro e Santos. O Brasil arrasou os rivais nas Eliminatórias e se classificou sem sustos, encantando o país.

– Convoquei só as feras, as feras do Saldanha – disse na época, dando a expressão que marcou a sua época na Seleção.

Mas em 1970 o Brasil começou a cair de produção. Um empate com o Bangu em Moça Bonita irritou a diretoria da CBF. Crítica da preparação física, entrou em rota de colisão com a comissão técnica. Alguns membros procuraram Havelange pedindo demissão.

João Saldanha dirige a Seleção no amistoso contra o Bangu (Foto: Arquivo CBF)

Comunista, João Saldanha era mau visto no Brasil de 60 e 70

Oficialmente se fala que a gota d´água para a queda de Saldanha foi mesmo os problemas com a comissão técnica. Nos bastidores da CBD entretanto se dizia que Havelange sucumbiu aos desejos dos militares, que comandavam o país em um regime ditatorial. Filiado ao Partido Comunista do Brasil, João Saldanha nunca escondeu suas opiniões. Chegou a viver na cladestinidade por conta disso. Assim comprou briga com o então presidente Emílio Garrastazu Médici, militar rigoroso.

Médici em uma entrevista disse que gostaria de ver o centroavante do seu time, o Atlético-MG, na Seleção Brasileira. Tratava-se de Dadá Maravilha. No mesmo dia, abordado pela imprensa sobre o assunto, Saldanha não se intimidou.

– O presidente escala o seu ministério. Eu escalo a Seleção. O Dadá não vai para a Copa – disse Saldanha, ganhando naquele dia o apelido de “João sem medo”.

Mas Dadá foi para a Copa do Mundo. Curiosamente, uma das novidades na lista de Zagallo, que assumiu o comando da Seleção Brasileira depois de Saldanha.

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João Saldanha então deixou o país falando cobras e lagartos da CBD e do governo. Na abertura, na década de 80, chegou a ser candidato a vice-prefeito como indicação do Partido Comunista. A cabeça da chapa, que foi derrotada, tinha Marcelo Cerqueira, então no PSB.

João Saldanha morreu trabalhando

João Saldanha morreu comentando futebol (Foto: Arquivo pessoal)

Após o regime militar, João Saldanha voltou a trabalhar como comentarista esportivo. O tio de Bebeto de Freitas, que viria a ser presidente do Botafogo, morreu quando estava em atividade, em julho de 1990, comentando a Copa do Mundo pela Rede Manchete. Dias antes de morrer criticou a Seleção Brasileira de Sebastião Lazaroni.

– O Brasil joga ao estilo europeu, que acaba com o talento e valoriza a força física. O futebol brasileiro deve ser jogado musicalmente. Nunca daria certo assim – reclamou Saldanha, que morreu vítima de complicações do tabagismo, seu vício.

João Saldanha até hoje é lembrado e homenageado no Botafogo. Deixou um legado crítico, sempre valorizando a arte no futebol. Previu qaue o fortalecimento da preparação física traria danos ao talento. Assim sempre erstará presente na memória dos que defendem o bom futebol, jogado pelas “Feras do Saldanha”.

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