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Monstro Vermelho, Platini curvado… Relembre o Argentinos Juniors campeão da Libertadores de 1985

Até meados dos anos 80 o Argentinos Juniors era apenas, se é que dá para usar a palavra apenas, o clube que cedeu para o mundo o talento de Diego Armando Maradona. O maior craque argentino de todos os tempos saiu das fileiras do modesto time de La Paternal, bairro residencial de Buenos Aires, que não tinha muitas conquistas em sua história. Mas a partir de 1983, quando começa a montar o time que encantaria a América, o Argentino Juniors começou a mudar essa história. O Monstro Vermelho, como era apelidado pela sua torcida por conta da cor vermelha da camisa, é o tema do MQJ Memória de hoje. Trata-se do Argentinos Juniors campeão da Libertadores de 1985.

Se era um clube sem muito poder aquisitivo, o Argentinos Juniors sempre contou com uma das mais apaixonadas torcidas do país. Além disso, conseguiu melhorar a sua economia quando vendeu Maradona para o Barcelona. Os quase 6 milhões de dólares da transação foram usados na formação da base e de um time que fez história.

Se temos técnicos com estilos de jogos considerados alegres, como Pep Guardiola e seu tiki-taka ou o Dizinismo de Fernando Diniz, o Argentinos Juniors apostou em 1983 em Ángel Labruna, que tinha sido jogador histórico do River Plate e tinha virado um treinador ousado. O time então passou a jogar um futebol vistoso e quase foi campeão nacional naquele ano. Mas seu treinador teve problemas de saúde e morreu. Mesmo assim o clube não quis abrir mão do estilo ded jogo, condição imposta a Roberto Saporiti, seu substituto e que levou o time ao título argentino de 1984, e a José Yudica, que levaria o Argentinos Juniors ao troféu da Libertadores.

Maradona com a camisa do Argentinos Juniors

Maradona com a camisa do Argentinos Juniors (Foto: Arquivo pessoal)

Nas arquibancadas do Estádio Diego Armando Maradona era comum ver os torcedores gritando quando o time avançavam em bloco para o ataque: “Vai Monstro, Vai Monstro”.

– A gente tinha uma forma de jogar que deiava os rivais preocupados quando tínhamos a posse de bola. O Castro e o Ereros, dois pontas que jogavam bem abertos, não tinham medo do um contra um. Partiam para cima e normalmente a jogada terminava com o complemento certeiro do Borghi. Isso sem falar que o nosso goleiro, Vidallé, era um dos melhores da Argentina. Além disso o Batista, que seria campeão com a seleção em oitenta e seis, não deixava passar nada na cabeça de área – lembrou José Yudica, o técnico campeão da Libertadores.

José Yudica, mesclando algumas peças, costumava escalar o seguinte time-base: Enrique Vidallé; Carmelo Villalba (Carlos Mayor), José Pavoni, Jorge Pellegrini (Miguel Lemme) e Adrián Domenech; Jorge Olguín, Sergio Batista e Mario Videla; Castro (Renato Corsi), Claudio Borghi e Ereros (Emilio Commisso).

Brasileiros sofreram pelo caminho

Argentinos Juniors faz a festa do título da Libertadores de 1985

Argentinos Juniors faz a festa do título da Libertadores de 1985 (Foto: Conmebol)

Após a conquista do título argentino, o Argentinos Juniors chegaria a seu primeiro torneio internacional: a Copa Libertadores de 1985. E o sorteio dos grupos foi péssimo. Ele caiu em uma chave Brasil-Argentina, que contaria com Fluminense, Vasco e Ferro Carril Oeste.

Naquela época apenas um de cada grupo avançava para as semifinais. Como os brasileiros não costumavam levar o torneio a sério, o Argentinos Juniors se aproveitou disso para vencer o Fluminense duas vezes por 1 a 0, sendo uma delas o Maracanazo do clube. Além disso fez 2 a 1 no Vasco em São Januário e empatou com os vascaínos por 2 a 2 na Argentina. A vaga nas semifinais veio com um triunfo de 3 a 1 sobre o outro argentino da chave, fora de casa.

Nas semifinais um triangular com Independiente, maior campeão da Libertadores, e Blooming da Bolívia. Como os argentinos venceram o Blooming em casa e empataram na Bolívia, a vaga ficou nos confrontos diretos. Se não conseguiu mais do que um 2 a 2 em casa com o Independiente, o Argentinos Juniors surpreendeu mais uma vez como visitante, ganhando por 2 a 1 em Avellaneda.

Argentinos Juniors venceu América no jogo de ida da Libertadores de 1985

Argentinos Juniors venceu América no jogo de ida da Libertadores de 1985 (Foto: Governo Argentino)

A final foi com o América de Cali, tetracampeão colombiano na época. O jogo de ida terminou 1 a 0 para o Argentinos Juniors em casa. Não bem em casa, pois o time teve que atuar no Monumental de Núñez porque o Estádio Diego Armando Maradona não cumpria as exigências da Conmebol.

O jogo da volta, em Cali, terminou com triunfo colombiano por 1 a 0. Assim era necessário um jogo-extra, em campo neutro. O Estádio Defensores del Chaco, em Assunção, no Paraguai, foi o escolhido para o que seria a maior glória da história do clube.

No dia 24 de outubro de 1985 Argentinos Juniors e América de Cali fizeram um duelo disputado em Assunção. Commisso, que era reserva, abriu o placar para o Monstro Vermelho aos 37 minutos. Mas quatro minutos depois Ricardo Gareca, hoje treinador de futebol, empatou.

O empate permaneceu até o apito final. O campeão da América seria conhecido nos pênaltis. Todos converteram suas cobranças até que na última do América, Ávilla chutou e o goleiro Vidallé defendeu. Com uma tranquilidade incrível, Videla deslocou o goleiro em sua cobrança e decretou a América aos pés de uma Joaninha.

Jogadores do Argentinos Juniors celebram após decisão por pênaltis

Jogadores do Argentinos Juniors celebram após decisão por pênaltis (Foto: Conmebol)

Platini se curva ao Argentinos Juniors

Menos de dois meses depois daquela conquista, em 8 de dezembro de 1985, o Argentinos Juniors pisou no gramado do Estádio Nacional de Tóquio, no Japão, para decidir o título do Mundial de Clubes com a Juventus. Era uma espécie de David contra Golias.

A Juventus dirigida por Giovanni Trapattoni era uma timaço, tendo como referências Michel Platini no meio e o atacante dinamarquês Michael Laudrup na frente. O primeiro tempo foi equilibrado e terminou sem gols.

Michel Platini e Claudio Borghi disputam a bola no Mundial de Clubes

Michel Platini e Claudio Borghi disputam a bola no Mundial de Clubes (Foto: Getty)

Na segunda etapa, logo aos dez minutos, Ereros abriu o placar para os argentinos. Platini, de pênalti, empatou oito minutos depois. Aos 30 minutos Castro recolocou o Argentinos Juniors em vantagem. Mas faltando sete minutos para o fim Laudrup igualou o marcador. Na disputa de pênaltis os italianos ganharam por 4 a 2.

Apesar do título, a Juventus foi dominada boa parte do jogo. Após o apito final, Platini pediu que os jogadores do time italiano recebessem a premiação com a camisa do Argentinos Juniors.

– Era uma forma de homenagear o que foi nosso rival naquele jogo. Nós ficamos com o título, mas o Argentinos Juniors encantou o mundo – disse Platini pouco depois do jogo.

Se a Juventus tinha Platini e Laudrup, os destaques do Argentinos Juniors eram duas crias da casa. O volante Batista, que foi um dos grandes nomes da Argentina campeã mundial em 1986, era um marcador implacável. Mas o grande ídolo da torcida era o goleador Claudio Borghi, que chegou a ter uma passagem apagada pelo Flamengo no fim dos anos 80.

Se não ganhou o mundo, o Argentinos Juniors de 1985, que também seria semifinalista da Libertadores de 1986, foi o dono da América. Aquele time fez com o mundo conhecesse a força de um Monstro Vermelho.

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