A confirmação do rebaixamento no Campeonato Brasileiro aumentou os ânimos no Botafogo. Tanto que o ex-presidente Carlos Augusto Montenegro emitiu uma carta onde critica a temporada alvinegra.
Montenegro não se pronuncia há quatro meses, quando deixou o Comitê de Gestão do Botafogo. O ex-dirigente aumentou o tom nas críticas, principalmente em alguns aspectos.
O ex-presidente admitiu que o Botafogo está em péssima condição financeira. Para Montenegro, o clube atualmente é “ingovernável” por conta das dívidas.
Ele também citou o título brasileiro de 1995 como um espasmo na história recente do Botafogo.
Sobre a temporada, Montenegro criticou a chegada de Paulo Autuori. Além disso, afirmou que o clube foi perseguido pela CBF por conta das opiniões do treinador contra a entidade.
Gatito ‘covarde’
Montenegro não poupou nem um dos principais ídolos alvinegros do elenco. O ex-dirigentes atacou o goleiro Gatito Fernández e o chamou de covarde.
Já ao falar dos estrangeiros só críticas. Honda e Kalou decepcionaram na temporada.
O ex-presidente decretou que se não houver dinheiro novo, o Botafogo vai permanecer na parte de baixo da tabela do Brasileiro nos próximos anos.
Confira a carta na íntegra:
“Vou sair do meu recolhimento para dar uma satisfação a algumas pessoas que merecem e estão nessa lista de e-mails do Paulo Amate. Confesso que não tenho ideia em 29 anos de Clube quem é o Sr. Antônio Carlos Porcher. Mas acho que ele representa o pensamento de alguns. Como foi o ano de 2020 para o futebol do Botafogo? Começou no fim de 2019 com alguns expoentes do Mais Botafogo me pedindo para ajudar, obviamente com dinheiro, para a sobrevivência do Clube. O técnico na época era o Valentim.
Desde 1996 quando saí da Presidência, nunca mais tive cargo, nem a caneta, mas sempre disse que o Botafogo era ingovernável, não existe boa gestão com 1 bilhão de dívidas, 160 milhões de faturamento anual e somente 20/30 entrando no caixa pois o resto está penhorado. Qualquer empresa estaria falida com esse quadro. Existe UTI e emergência o tempo todo. Aí tivemos o primeiro erro. Ninguém queria entrar e entraram todos, e foi formado o Comitê. Erro pois são várias pessoas pensando, com opiniões diferentes e sem dinheiro nenhum.
Começou o estadual e o Valentim saiu. O Autuori me liga e se oferece quase de graça para ajudar o Botafogo. Aceitamos. Foi o segundo erro: apesar de bom treinador, o discurso era que queria ir embora. Sempre. E posições políticas fortes contra o sistema político do futebol. Fomos prejudicados na CBF. Hoje ninguém se lembra , mas os árbitros foram esquisitos em vários jogos importantes. Nesse momento tem o falecimento do Espinosa. Sempre abala. Veio a pandemia. Talvez aí o Autuori deveria ter saído.
Optamos por uma folha entre 1,5 a 2 milhões. Seria formada por vários da base, algumas contratações de jogadores novos e alguns experientes para dar equilíbrio. Decisão errada. Hoje verifico que faltaram HOMENS de 25 a 35. Que assumem responsabilidades. Não temos isso. A venda do Luís Henrique era impossível impedir pois ele não era nosso. Erramos sim no empréstimo do Luís Fernando. Apesar de estar jogando mal há algum tempo, teria nos ajudado. Com a saída do Autuori resolvemos pelo Lazzaroni. Dois erros: primeiro ele estava com um tumor/câncer no estômago. Segundo não deveríamos ter tirado ele após o jogo contra o Cuiabá. Vinda do Túlio também não ajudou. Lúcio Flávio também. Todavia percebam que tudo é ligado a dinheiro. Salários de 30, outro de 40 e outro de 50. O Antônio Lopes, que fez um ótimo trabalho, saiu um pouco criticado. O Anderson Barros entrou e ninguém gostava muito dele. Saiu. E sendo uma pessoa que não aconteceu aqui, se transformou em campeão Da Libertadores. Aprendeu a trabalhar ou o que conta é o dinheiro?
Continuando, demoramos a contratar o Ramon Diaz e sua comissão técnica. Na hora de assinar… outro câncer. Na garganta. Fica o filho. As previsões de retorno não se confirmaram. Deveríamos esperar mais com o filho ou não? Alguns falavam: Não contratamos o filho. Outros vamos esperar. E o time sempre mal. É bom saberem que tentamos Luxemburgo, Lisca, Roger… ninguém quis. Veio o Barroca. Chegou e três dias depois Covid pesado. 50% do pulmão tomado. Além disso, uma pessoa super querida que ficou com eles o ano todo morre com a doença. Renê Weber. O grupo sente. Mais adiante o motorista de 20 anos do grupo, Maurão, morre também. E o Marcinho ,que esteve com todos o tempo todo, no último dia de contrato atropela e mata duas pessoas. Um grupo novo que sucumbiu.
CONTRATAÇÕES. Goleiros. Pensávamos que estávamos bem. Não contávamos com a covardia do Gatito de não querer jogar. Lateral-direito. O mais caro só jogou no final e muito mal. O Marcinho. Kevin, Federico e Gustavo Cascardo (pedido do Autuori) fraquíssimos. É importante lembrar que sem dinheiro muita coisa é aposta. Os três somados dão o que ganha o Marcinho. Passando para a zaga o Benevenuto começou bem e depois caiu muito, quando trocou bailes da noite pela competição. Kanu foi bem. Souza ainda muito novo. Hoje chegamos a pensar se o Carli deveria ter ficado mesmo reserva ganhando 350 mil com encargos. Não sei responder. Victor Luís veio, começou bem e depois caiu muito. Teve uma operação de apendicite no meio. Caio Alexandre uma grata surpresa. Nazario tava bem e caiu. Babi e Pedro Raul vieram de graça, 23 anos, 1,92m, e a noite e a farra consumiram eles. Rhuan decepcionante. Éber Bessa, Angulo, Davi Araújo, Rentería, Lecaros… todos baratos e ninguém deu certo. Tentamos não ir em Rafael Moura 200, Thiago Galhardo 300, Thiago Neves 300, Vina do Ceará 200, pois não tínhamos dinheiro e vendo hoje talvez devêssemos ter arriscado. Sobre os estrangeiros. A ideia era motivar o sócio-torcedor. E ter experiência com os garotos. Deu tudo errado. Honda só viu a torcida no aeroporto. Burocrata. Foi embora sem ninguém no aeroporto. Kalou aposta totalmente errada.
Tenho certeza que tentei fazer o melhor. Tenho certeza que fui otimista demais e pessimista demais em outros momentos. Sei que deveria ter continuado de fora, mas meu jeito de ser acabou prevalecendo, sempre muito verdadeiro, com honestidade e acabei sendo um para-raio e ajudei a proteger todos em volta. Não tem problema. Erro e acerto. Nunca me escondo. Não tem covardia no meu dicionário.
O FUTURO. Para os botafoguenses dessa lista refletirem. 1) se não houver dinheiro novo, investidores ou um investidor, S/A pagarmos a dívida e começarmos tudo de novo com o futebol totalmente separado do clube, vamos sobreviver ou definhar aos poucos. Não tem mágica. Não tem gestão. Sai Agostini e entra o Porcher e não muda nada. Só temos que ter cuidado para chegando um investidor, tipo a Red Bull chegou no Bragantino, não troque o nosso preto e branco por vermelho e branco, como fizeram lá. 2) a situação do Rio, esvaziamento político, econômico, social e no futebol local piora o quadro. O Fluminense teve um espasmo esse ano, mas tem situação difícil. O Vasco com o dobro da nossa torcida, hoje, está no Z4 conosco. Esquisito, né? Nesse quadro atual, sem dinheiro novo, vamos sempre disputar do décimo ao vigésimo. Cai e sobe. Às vezes não vai subir.
O Cruzeiro com mais torcida, dinheiro e vários títulos recentes é uma prova. Hoje estamos nivelados ainda com Juventude, Avaí, Chape, Coritiba, Vitória, Bahia, Sport, Náutico, Fortaleza, Guarani, Ponte Preta, Cruzeiro, América-MG, Goiás etc… Aí alguém da lista de e-mail fala: O quê?!!!! Que ultraje!!!! Com a tradição do Botafogo? De Garrincha, Didi, Amarildo, Quarentinha e Zagallo. De Nilton Santos. De Manga, Jair, Roberto e PC. Pois é. Aí está o nosso erro. O passado é tão bonito que ninguém quer aceitar o presente. Quando falo do presente, falo dos últimos 40 anos do Porcher. 95 foi um espasmo. Graças a Deus pois, se não tivéssemos uma geração Túlio, estaríamos ainda menores.
3) por último um alerta. Nossa torcida só diminui. É muito velha. Não tem renovação. Mil e poucos sócios pagantes. Presidente eleito com 500 e poucos votos. Essa lista de e-mails com 270 pessoas. Estamos caminhando para ficarmos do tamanho desta lista de e-mails. É a realidade. Podem ter alguns que não aceitem. Podem ter bravatas. Podem ter procura de culpados. Mas é a realidade. Me despeço pedindo desculpas pelos meus erros, não me arrependo de nada, mas não acredito mais nesse modelo de administrar falência. Me recolhi e me aposentei porque quis e não por sugestão do Porcher. De cabeça erguida e sem covardia. Independente dos erros de todos os meus pares, assumo eles pois estava por perto. Botafogo para mim não tem série. A, B ou C. Será sempre fora de série e amor da minha vida. Estamos agora numa nova era. ERA DO PORCHER. MAS SEM DINHEIRO, JÁ ERA.”
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